Prêmio Flavio Terra Barth

História do Prêmio

Em 1987 no Simpósio da ABRH, realizado em Salvador, seus participantes foram expostos a ideias e conceitos que viriam a romper com os paradigmas que até então norteavam a atuação puramente técnica e científica da Associação. O novo paradigma procurava alinhar o País com o que já vinha ocorrendo em países mais desenvolvidos e propugnava por conceitos como a descentralização e participação da sociedade nos processos decisórios, pelo valor da água como elemento essencial para o desenvolvimento econômico e ao mesmo tempo como fator indissociável da boa qualidade ambiental. Propugnava também pela abordagem holística e sistêmica do setor, pela promoção do aproveitamento múltiplo e racional dos recursos hídricos e pela necessidade de implantar instituições capacitadas para se encarregar de tarefas tão gigantescas. Em resumo, a partir desta data, o planejamento, a gestão e os aspectos institucionais passaram fazer parte da agenda da Associação.

Muitos colegas já partilhavam e se empenhavam pela implantação efetiva destes conceitos. O papel destas pessoas foi importantíssimo e este espaço não é suficiente para externar o reconhecimento de nossa comunidade a todas elas.

Entretanto, três fatos são indiscutíveis: primeiramente o papel da ABRH, que abrigou e encorajou discussões e se transformou em verdadeira plataforma de lançamento das ideias que iam se consolidando, depois, o significado simbólico do Simpósio de 1987 como marco do início de novos rumos e, finalmente, a notável participação do engenheiro Flavio Terra Barth como um dos líderes deste movimento.

Nascido em Itapetininga- SP em 1942, deixou-nos precocemente no ano 2000, legando ao País uma  contribuição de significado transcendental. Aos que tiveram a felicidade de conhecê-lo, os sentimentos são sempre plenos de admiração, respeito, gratidão e carinho.

Formou-se em Engenharia Civil na Escola Politécnica em 1966. Recém formado, ingressou no Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo onde aposentou-se em 1996.  De início dedicou-se a funções técnicas como residente de obras em sedes regionais do DAEE, passando posteriormente para etapas de projeto e planejamento. Nesta época, montou equipes de jovens técnicos que foram treinados e, mais do que isso, inspirados por ele. Grande parte destes “antigos jovens” são pessoas de destaque na comunidade nacional de recursos hídricos e, aqui também, o espaço é insuficiente para citá-los.

Na década de 80 convenceu-se de que seus conhecimentos de hidrologia, hidráulica, estatística e projetos hidráulicos, embora sólidos, seriam insuficientes para tratar a questão dos recursos hídricos com a plenitude e importância merecidas. Com a visão holística que o caracterizava, aproximou-se das áreas ambientais, legais, sociais e econômicas. Animava-o a convicção de  que a questão do aproveitamento racional e sustentável dos nossos recursos hídricos somente poderia ser tratada mediante a integração destas áreas aos conhecimentos técnicos. Mais ainda, dizia que não seria suficiente dispormos de técnicos e cientistas bem intencionados e competentes. Era essencial “conquistar corações e mentes” dos diversos segmentos da sociedade para a causa da gestão múltipla e racional dos nossos recursos hídricos.

A rigor, mesmo àquela época, estas ideias não eram novas. Foi notável, entretanto, a capacidade do Flavio em formulá-las de forma clara e didática, em atingir diversos segmentos da comunidade, em convencer os mais céticos e, finalmente, em transformar estes conceitos abstratos em realidade. Enfim, corações e mentes foram conquistados de forma inusitada por uma personalidade tranquila, educada, quase tímida, que era aparelhada, entretanto, com grande capacidade de agregação, sólida formação intelectual e altos padrões éticos.

Flavio tinha uma visão muito clara a respeito do papel da ABRH na questão de recursos hídricos. A Associação, antes de tudo, deveria ser um fórum em que a sociedade pudesse discutir livremente suas ideias, expor divergências e conflitos para procurar caminhos que melhor atendessem os interesses da sociedade. As manifestações públicas da Associação deveriam ser sempre fundamentadas nos princípios que regem o aproveitamento múltiplo sustentável e racional dos recursos hídricos. Estes princípios foram enunciados nas duas primeiras Cartas da ABRH, aprovadas em Assembleia Geral da Associação realizadas durante os Simpósios de Salvador (1987) e Foz do Iguaçu (1989), com a ativa participação do Flavio nas discussões dos conceitos e redação dos textos. Estas cartas além já fazerem parte da história da gestão dos recursos hídricos brasileiros, constituem leitura obrigatória para todos que se interessem pela área.

Durante anos seguidos Flavio foi responsável pela Comissão de Recursos Hídricos da ABRH. Nesta condição organizou eventos, encorajou debates, participou e contribuiu com realizações que hoje já fazem parte da história do setor de recursos hídricos do país. Ajudou inúmeras instituições a formular suas Políticas, formalizar suas atribuições e organizar suas atividades. Na época em que a internet ainda engatinhava e as chamadas redes sociais sequer existiam, fundou o Fórum de Recursos Hídricos da ABRH. Atuou como mediador do Fórum, até o fim de seus dias. Sua mediação refletia os valores em que acreditava: ética, bom senso e respeito às opiniões dos participantes. Quando necessário, para coibir eventuais excessos dos participantes, utilizava apenas o fino senso de humor que o caracterizava.

Em fins da década de 90, amadureceu na ABRH a ideia de tornar público o agradecimento e reconhecimento pelas notáveis contribuições do Flavio. O Conselho Consultivo e a Diretoria Executiva aprovaram a realização de uma homenagem, que deveria ser realizada durante o Simpósio de Aracaju de 2001. Quis o destino que o Flavio nos deixasse antes deste evento, sem sequer saber do gesto que a ABRH lhe preparava. A homenagem foi realizada “in memoriam” com a presença de sua viúva, a quem foi entregue uma escultura concebida pela artista plástica gaúcha Ana Norogrando.

Com o objetivo de perpetuar a homenagem ao Flavio, a ABRH instituiu o Premio Flavio Terra Barth, que é concedido a cada dois anos, por ocasião dos Simpósios Nacionais da ABRH.  O prêmio é destinado a indivíduos que tenham se destacado por contribuições significativas ao desenvolvimento do aproveitamento racional e sustentável dos recursos hídricos.     

Escolha dos Agraciados com Prêmio

O Prêmio Flavio Terra Barth tem como objetivo reconhecer a atuação de pessoas ou instituições que tenham se destacado por contribuições significativas para a gestão e aproveitamento racional e sustentável dos recursos hídricos.  O Prêmio é concedido a cada dois anos durantes os Simpósios Brasileiros de Recursos Hídricos da ABRH.

A sugestão de nomes a serem considerados para o Prêmio pode ser feita por qualquer associado da ABRH.  A sugestão do nome deve ser acompanhada de uma justificativa fundamentada explicando porque da nomeação e enfatizando as notáveis contribuições do candidato para a gestão e aproveitamento dos recursos hídricos.

A escolha do receptor do Premio Flavio Terra Barth é feita por um Comitê formado, no mínimo, por três pessoas, sendo um membro do Conselho Consultivo da ABRH, um membro da Diretoria Executiva, e um participante externo, de reconhecida competência e reputação na área de recursos hídricos. O premio é constituído apenas de um certificado e de uma escultura, que obedece rigorosamente ao projeto da peça original.

A ABRH considera parte integrante da sua missão institucional reconhecer aqueles que contribuíram significativamente com a gestão de recursos hídricos no Brasil. A cerimônia de entrega do Prêmio Flávio Terra Barth é um dos momentos mais emocionantes e significativos dos Simpósios Brasileiros de Recursos Hídricos.

Vencedores do Prêmio Flávio Terra Barth

Até a data os premiados foram os seguintes:

  • Flavio Terra Barth (in memoriam 1967-1996)
    • Departamento de Águas e Energia Elétrica, SP
    • XIV Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Aracaju, 2001
  • Fazal Chaudry
    • Escola de Engenharia de São Carlos- USP
    • XV Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Curitiba, 2003
  • Carlos Eduardo Morelli Tucci
    • Instituto de Pesquisas Hidrológicas- IPH, UFRGS
    • XVI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, João Pessoa, 2005
  • Rubem La Laina Porto
    • Escola Politécnica, USP
    • XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, São Paulo, 2007
  • Benedito Pinto Ferreira Braga
    • Escola Politécnica, USP
    • XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Campo Grande, 2009
  • Vicente de Paulo Barbosa Vieira
    • Universidade Federal do Ceará
    • XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Maceió, 2011
  • Benedito Barbosa
    • Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica - DNAEE
    • XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Bento Gonçalves, 2013
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